Com tarifaço, setor metal mecânico da 4ª cidade brasileira que mais vendia para os EUA vê risco de desemprego e recessão
08/08/2025
(Foto: Reprodução) Tarifaço: Piracicaba é 4ª cidade do país que mais exportou para os EUA em 2024
Impulsionada pelo setor de máquinas pesadas, Piracicaba, no interior de São Paulo, foi a 4ª cidade do Brasil que mais exportou para os Estados Unidos em 2024. Com o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros estabelecido pelo presidente dos EUA, Donald Trump, o setor metal mecânico vê risco de desemprego e recessão econômica.
Os Estados Unidos receberam 42% do total exportado por Piracicaba em 2024. Isso significou 1,3 bilhão de dólares em vendas para a economia estadunidense. A cidade fica atrás apenas do Rio de Janeiro (RJ), São José dos Campos (SP), e Duque de Caxias (RJ).
O destaque é a produção de máquinas para setores da construção civil, obras de infraestrutura e agricultura, que representa 57% das vendas de Piracicaba para os Estados Unidos em 2025.
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Com tarifaço, setor metal mecânico aponta risco de desemprego e recessão
Márcio de Campos/ EPTV
'Não é possível absorver internamente'
Para a maior economia do mundo, foram vendidos R$ 2,8 bilhões em máquinas pesadas como niveladoras, escavadoras e rolos compressores, que antes do tarifaço tinham alíquotas de importação zeradas.
"Pra nós, [o impacto pode ser] desemprego e recessão econômica, para nossa região de Piracicaba. Para os Estados Unidos, se você não tiver de onde buscar esses equipamentos, pode gerar inflação, porque aí eles terão que comprar daqui do Brasil com um preço maior", afirma Erick Gomes, presidente do Sindicato das Indústrias Metal Mecânicas de Piracicaba e região (Simespi).
O setor metal mecânico tem aproximadamente 1,2 mil empresas em Piracicaba e cidades próximas, que empregam mais de 30 mil pessoas, incluindo uma montadora de máquinas pesadas multinacional, que tem sede nos Estados Unidos e aproximadamente 4 mil funcionários.
"Não é possível absorver [a produção] internamente e tampouco você consegue uma movimentação muito rápida de fabricação em outras plantas que esse grupo americano tenha em outros países. Demanda um tempo razoável para você fazer a virada de produção para trazer esses produtos, então, não é tão simples assim, não. Pode ser bem complexo", acrescenta Gomes.
Dados sobre as exportações de Piracicaba para os Estados Unidos
Reprodução/ EPTV
Ritmo das linhas de produção ameaçado
A indústria, no geral, emprega 36% da mão de obra com carteira assinada em Piracicaba. E há preocupação de economistas com a possibilidade da diminuição de postos de trabalho por causa do tarifaço.
Segundo Cristiane Feltre, professora de Economia da PUC-Campinas, a indústria no Estado de São Paulo e no Brasil emprega de 16% a 18% da mão de obra formal, enquanto em Piracicaba o percentual é de 36% da mão de obra formal empregada.
Já o setor metalmecânico representa em torno de 70% a 80% do emprego industrial em Piracicaba.
"Possivelmente, num primeiro momento, a gente tenha aí uma paralisação ou mesmo uma redução do ritmo das linhas de produção nas fábricas. E isso tem um impacto, naturalmente, no emprego formal. Essa consequência vai também para os clientes da indústria, como o setor de transportes. O setor de transportes de máquinas, que eventualmente venha a depender da indústria de Piracicaba, também ser impactado", contextualiza a professora.
ARQUIVO: planta da Caterpillar Brasil em Piracicaba
Claudia Assencio/ g1
'Analisando o melhor cenário', diz empresa
Uma das principais empresas do segmento na cidade, a Caterpillar informou, durante apresentação dos resultados financeiros, em 5 de agosto de 2025, que está acompanhando de perto os desdobramentos das tarifas anunciadas.
“As negociações tarifárias e comerciais estão sendo muito dinâmicas. Nenhuma ação urgente será tomada no momento, e estamos analisando o melhor cenário antes de definir os próximos passos. Permaneceremos flexíveis e só tomaremos medidas de longo prazo assim que houver uma maior certeza do cenário”, informou o CEO da Caterpillar, Joe Creed, em nota.
Além do metal mecânico, outro setor industrial de Piracicaba que pode ser impactado pelo tarifaço e vende para os Estados Unidos é o do açúcar e derivados, incluindo o álcool.
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